segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Visões do Sul pode ter sido uma bomba em Portimão

Under The Bombs, de Philippe Aractingi, agradou às gentes de Portimão e venceu na votação do público do primeiro Visões do Sul. A próxima edição é possível. Ana Isabel Strindberg lançou o desafio da itinerância.

A primeira Mostra Internacional de Cinema de Portimão acabou no sábado com a promessa de uma segunda edição. O anúncio foi feito durante a sessão de encerramento, perante mais de uma centena de pessoas, antes da exibição de The Yacoubian Building, do egípcio Marwan Hamed, com Miguel Valverde a representar a associação Zero em Comportamento e José Gameiro em nome do Museu de Portimão, que dirige, e da autarquia local.

Ana Isabel Strindberg (na foto à direita), programadora do DocLisboa e do Centro Cultural da Malaposta, foi mais longe. Além de uma segunda edição, Strindberg, convidada para comentar Under The Bombs, desafiou ambas as entidades responsáveis pelo evento a criar uma programação itinerante. «Portugal merece ver estes filmes.» Preocupada com a centralização vigente, disse que «é preciso reinventar a distribuição» do cinema e propôs mesmo uma «plataforma intermunicipal» para o efeito.

Para o derradeiro dia das Visões do Sul estavam programadas três longas e uma curta-metragem. E foi desse leque que saiu o vencedor da votação do público – Under The Bombs, de Philippe Aractingi. A produção franco-libanesa é uma «ficção do real», como Ana Isabel Strindberg a catalogou, que mostra a angústia de uma mãe procurando o filho (parte ficcional) nos dias que se seguiram ao cessar-fogo decretado pela ONU na guerra no sul do Líbano, em 2006, entre o Hezbollah e o exército israelita (parte documental).

Under The Bombs, com uma média de 4,71 (numa escala de 1 a 5), relegou para o segundo lugar o documentário Voyage in G Major, do francês Georgi Lazarevski, que gozava da preferência público desde quarta-feira, quando foi exibido. Daí para baixo, na tabela dos cinco melhor votados, ficaram, por ordem, Offside, de Jafar Panahi (4,39), O Adeus à Brisa, de Possidónio Cachapa (4,12), e Bab Sebta, de Pedro Pinho e Frederico Lobo (4,07).

Pedro Pinho (na foto à esquerda) esteve, aliás, no Museu de Portimão para apresentar e debater Bab Sebta. O documentário, filmado entre Marrocos e a Mauritânia, mostra a realidade e a vontade migratória de algumas populações do norte africano. Da experiência, o realizador destacou que, por aquelas paragens, «quase toda a gente tem um discurso esclarecido, lúcido» – e comparou os pescadores no documentário com os de Portugal, sublinhando a necessidade do saber pela diversidade das condições de vida vistas pelos olhos dos primeiros.

«Bab Sebta», árabe, é a porta de Ceuta, que abre África à Europa. O projecto, partilhado com Frederico Lobo e com Luísa Homem, venceu a secção nacional do último DocLisboa e já foi exibido por diversas vezes em salas tanto portuguesas como francesas, seguindo agora para a Argentina e para o México. A narrativa, contou Pinho, foi sendo criada, diariamente, à medida que seguiam as filmagens. Uma preocupação central: «Não queríamos mostrar uns coitadinhos, miseráveis, de que todos nós teríamos pena.» O público aplaudiu. Como tinha dito Ana Isabel Strindberg mais cedo, «a programação destas Visões do Sul é de uma grande riqueza».


[Texto publicado em Rascunho.net]

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