O grande engenho deste filme está em transformar um acontecimento comum (uma pessoa que tem o mesmo nome de outra pessoa) numa viagem ao Inferno. Existem muitos Hans, assim como há muitos Joões (e Pedros), e o nome é de algum modo a nossa identidade; mas ao mesmo tempo um Hans não tem nada a ver com outro Hans. Rafa Cortés e o seu actor e argumentista Alex Brendemühl criam uma situação quase surreal em que um alemão chamado Hans que veio substituir outro alemão chamado Hans tem (por assim dizer) que pagar pelos pecados do seu nome. Durante o filme não vamos saber quase nada sobre o «Hans original», apenas que ele era ou fez ou representou alguma coisa que aquela comunidade em Maiorca ainda recorda, e que o «novo Hans» é suspeito logo por causa do seu nome. O pecado original é o pecado do nome, e isso faz com o novo «Hans» seja obrigado a questionar a sua identidade. O estilo lacónico, intenso e interiorizado do filme ajuda a tentar perceber onde está afinal o Inferno: em nós, nos outros ou nessa ficção chamada «identidade».
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
«Quem sou eu?», por Pedro Mexia
Como prometido, cá fica o texto de Pedro Mexia, a propósito de Yo, de Rafa Cortés:
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